Confira abaixo a entrevista com Wanderley Filho:
Entrevistador: Em linhas gerais, o que você entende por blog?
Wanfil: Um blog é um espaço simples de organização de informações. Pode ser um diário ou um noticiário. É uma ferramente que se amolda ao uso que se faz dela.
Entrevistador: O que você acha da quantidade de blogs que existem em todo mundo? Isso é bom ou ruim?
Wanfil: Não sei ao certo quantos blogs existem ou qual a taxa de blogs criados e mantidos com postagens regulares. Sei apenas que é uma enormidade e que cresce. Tendo a ver esse fenômeno de comunicação como positivo. A velha relação emissor/receptor está sendo substituída pela interatividade. O sujeito tem acesso à informação e pode replicá-la com sua opinião. Se antes a comunicação consistia em fazer do leitor um ator passivo, agora isso mudou. A dificuldade é administrar a quantidade de informação. No entanto, como tudo no mundo, a qualidade do que é ofertado ao público é que vai determinar quais blogs merecem maior ou menor atenção.
Entrevistador: Comente sobre a forma de utilização do seu blog. Já que é um blog opinativo defenda as nuances positivas dessa forma de informação.
Wanfil: Para mim, e essa é uma visão bem particular, não há sentido em ter um blog que não seja o de produzir opinião. Um blog, feito por uma pessoa, não tem condições de competir com a redação de um jornal ou site na coleta de notícias. O que acontece muito é blogueiro viver de copiar e colar conteúdo. Não gosto dessa ideia de clipping ou filtro. Claro que um blog tem que ter um corte, um assunto de maior relevância, mas, como disse, é preciso completar essa notícia com uma opinião qualificada. Aí temos outro problema. Quando falo opinião, ressalto que isso é algo diferente do palpite. Emitir uma opinião é um ato de extrema responsabilidade que precisa ter embasamento. Se acredito no Estado Democrático de Direito, preciso estar apto a discerni-lo de outras formas de organização social. Se acredito na autonomia da consciência individual, preciso saber quais escolas de pensamento defendem o mesmo e quais adotam a prevalência da coletividade. Daí é que a opinião, ainda que colocada de forma condensada, pode agregar valor. Por exemplo: um modo de produção em que as pessoas devam buscar o lucro é bom ou ruim para a sociedade? Eu considero algo positivo. Para isso, precisei pesquisar muito. Li os liberais e li Marx. Fico com a Escola Austríaca. É claro que na hora de escrever a gente não complica abusando desses referenciais, mas é que, quando uma opinião esbarra numa contestação, o seu leitor tem que ter a segurança de que você sabe sobre o que está falando. Sempre que fui contestado, seja por leitores ou por outras pessoas, fui capaz de delinear a origem da minha opinião e a forma como ela se desenvolveu.
Entrevistador: Você acredita que para dar uma notícia no blog, o blogueiro deve ser um jornalista?
Wanfil: Não. Aliás, concordo com o STF. Acho que isso não deve ser obrigatório nem para escrever em jornal. Pode ser um diferencial, mas não é imprescindível. O obrigatoriedade apenas burocratiza. Além do mais, é impossível controlar isso. Se conheço uma personalidade que me passa uma informação em primeira mão e coloco isso no meu blog, isso é notícia, mas ao mesmo tempo, é diário.
Entrevistador: O que fez com que houvesse fidelidade por parte dos seus seguidores? Comente sobre o assunto.
Wanfil: A proposta do meu blog é escrever para um público mais seleto, capaz de absorver certos conceitos sem que eu precise me alongar demasiadamente em explicações didáticas. Isso quanto à forma. Quando ao conteúdo, faço uma mistura entre crítica cultural e política. Pessoas que têm afinidade com esses temas me acompanham. Mas para ser mais seletivo ainda, explico aos leitores que tudo o que escrevo tem por base um conjunto de conceitos, como defesa de valores democráticos, livre iniciativa, liberdade de pensamento, defesa da propriedade privada etc. As pessoas já sabem, previamente, que ali não encontraram uma defesa do MST quando esse grupo invade uma propriedade rural. Não faço proselitismo escondido, me dizendo neutro o isento. No meu blog, nunca fui nem nunca serei isento em relação aos meus valores. Eu os defendo. Por ironia, muitas vezes, pessoas que não concordam com a gente, que têm até raiva do que escrevo, acabam se tornando os leitores mais assíduos. Mas todos, sem exceção, os que aprovam e os que desaprovam, sabem que faço meu texto com sinceridade e que busco fundamentar tudo o que digo. Cada palavra, cada conceito, tem uma razão para estar ali. Então, pego fatos do cotidiano político e procuro dissecá-los à luz dos meus estudos, com uma linguagem direta. Não me preocupo tanto com quantas pessoas me lêem, mas com a qualidade de quem me lê.
Entrevistador: Você é a favor da publicidade nos blogs?
Wanfil: Sim, embora pessoalmente eu não a procure. Poderia ter, inclusive, financiadores que apenas gostam do que falo. Mas isso acaba por colocar uma série de preocupações extras para quem escreve. Mas não tenho nada contra, desde que o patrocínio ou o anúncio seja informado ao público. Blogueiro financiado pelo Banco do Brasil, por exemplo, tem compromissos que atuam sobre o que ele fala. Cabe ao leitor tirar suas conclusões e comparar com outros veículos.
Entrevistador: O blogueiro pode colocar em seu blog o que bem entender.
Wanfil: Sim. Essa é a premissa básica da liberdade de expressão. O corolário lógico é que ele tem que arcar com as responsabilidades dessa liberdade. Se acusar alguém, que prove. Se ofender um terceiro, que aguente a resposta. Entrevistador: Quanto aos comentários, você usa algum critério de “aprovação”, e rejeita se for necessário?Wanfil: Sou criterioso. Muita gente confunde mediação de comentários com falta de espírito democrático. Isso é um truque. Alguns comentários que recebo têm conteúdo ofensivo contra a minha pessoa. Naturalmente eu não publico. Quem quiser falar mal de mim que crie o seu blog e arrume os seus leitores. Nisso, sou democrático. Só não contem comigo para falar mal de mim. Também não permito propaganda eleitoral e acusações de crimes contra terceiros. Isso, no fim, me protege contra processos. Já existe jurisprudência que determina que o blogueiro é o responsável pelo conteúdos dos comentários. Se alguém atentar contra a honra de uma pessoa, na impossibilidade de identificar quem foi o autor do ato, a vítima pode processar o dono do blog.
Entrevistador: Você deixou de criticar, ou falou melhor de alguém que o presenteou?
Wanfil: Nunca recebi presentes. Também, nunca me ofereceram. Mas já aliviei nas críticas a um ou duas pessoas por conhecê-las. Mas a essência da crítica, mantive. Com o tempo, com o exercício da escrita e das técnicas de argumentação, a gente aprende que adjetivar indivíduos serve apenas para desviar a atenção do leitor sobre o que realmente é importante, que são os processo que se manifestam na questão abordada.
Entrevistador: Você acredita ser um formador de opinião?
Wanfil: Sim. Com o tempo, e com a relevância do que digo, conquistei leitores importantes e que também são formadores de opinião. E isso somente aumenta a nossa responsabilidade. Consegui outros espaços de atuação na mídia tradicional, como rádio e jornal impresso, graças ao trabalho que desenvolvi no blog. Isso é legal. Mas ainda não estou satisfeito. Espero poder melhorar e assim conseguir mais espaços.
Para conferir o Blog de Wanderley Filho clique aqui.
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